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terça-feira, 3 de setembro de 2013

ENTREVISTA COM TEOLINDA GERSÃO



Um privilégio imenso publicar a entrevista que Teolinda Gersão teve a amabilidade e disponibilidade de conceder ao nosso blog poupando, ainda o anfitrião, à dificuldade em sintetizar a sua  nota biográfica... Um grande momento de uma grande senhora das letras. 

NOTA BIOGRÁFICA:

Teolinda Gersão estudou nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim e Professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa. É autora de doze livros (romances e contos), traduzidos em onze línguas. Foram-lhe atribuídos por duas vezes o Prémio de Ficção do Pen Club (O Silêncio 1981, O Cavalo de Sol,1989)o Grande Prémio de Romance e Novela da APE (A Casa da Cabeça de Cavalo,1997), o  Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários (Os Teclados 1999), o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco (Histórias de Ver e Andar,2002), o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio da Fundação Inês de Castro (A Mulher que Prendeu a Chuva), e foi shortlisted para o Prémio Europeu de Romance Aristeion.
Foi escritora-residente na Universidade de Berkeley em 2004.
Alguns dos seus livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia.
Os seus livros mais recentes são A Cidade de Ulisses,romance, 2011,e As Águas Livres,Cadernos II,2013.

Mais informação em www.teolindagersão.wordpress.com

ENTREVISTA:


1- Fez uma declaração de amor à língua portuguesa em Junho de 2012 onde, num texto primoroso, aliou mordacidade,  humor e reflexão.

“Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta.”

A esta distância  acha que há, agora, mais amor à língua portuguesa, ou que, pelo contrário,  com a polémica do acordo ortográfico à ilharga ,“ a turma vai acabar por chumbar”?...

A “redacção” que escrevi em 2012, ”Declaração de amor à língua portuguesa,” era um texto  muito irónico, mas realista. O ensino que se faz da língua consiste basicamente na aprendizagem de uma terminologia e, por muito bons que sejam os professores, os alunos resistem a aprender o que acham tão absurdo como inútil. O que só prova que são inteligentes. O MEC tem os chumbos e as péssimas notas que merece.

Quanto ao desastrado “Acordo” Ortográfico, há um número crescente de vozes de protesto que o recusam liminarmente, em Portugal e fora dele. O que é um bom sinal de que estamos vivos.”Estou vivo e escrevo sol”, escreveu António Ramos Rosa. Nós estamos vivos e escrevemos/dizemos: Não.

2 - Em,  A casa da cabeça de cavalo,  o personagem Januário interroga-se sobre se primeiro se deveria ter um estilo e só então escolher as palavras...Estas são também interrogações suas? Construir uma história, um texto em que se consiga atingir o equilíbrio  entre a beleza da palavra, o estilo e a necessidade de reflexão? E esse equilíbrio surge-lhe de forma natural ou tem, por trás, um aturado trabalho?

Esse passo (como aliás todo o romance) é também muito irónico. Ninguém é escritor porque construiu a priori um estilo, só quem nada percebe de literatura pode julgar que se aprende a escrever através da teoria da literatura,da retórica literária,da linguística ou de qualquer outra disciplina. 

3 – Em  A cidade de Ulisses  a relação amorosa de um casal é o pretexto para abordar o amor, a liberdade, a identidade, a opressão e revisitar Lisboa, a antiga e a moderna, traçando paralelismos entre episódios de ruptura no passado e a situação actual. Acredita que é na  criatividade, na arte e na cultura que reside a chave para  vencer este fado de crise que ciclicamente atravessa a nossa sociedade?

Nada nas nossas crises é “fado”, mas sim corrupção e incompetência – por vezes incompetência voluntária, recusa de mudar o status quo por conveniência, o que é também uma forma de corrupção. Escrevi um romance sobre Lisboa, mas vejo-a da perspectiva de personagens que estudaram e viveram anos fora dela, e têm  por isso um olhar diferente. O fado não é uma canção melancólica, digo por exemplo no livro: é uma canção altiva. Porque é assim que penso, somos um povo corajoso e altivo, e não brando e resignado. E somos imensamente criativos, o que é uma enorme mais valia, não tenho a menor dúvida sobre isso.
 Amo muito Lisboa, sim. Estou satisfeita com o que, década após década, antes e depois de 74, o poder autárquico e político têm feito dela? A resposta é não. E em relação ao país, à mesma pergunta daria a mesma resposta: Não.

4 - No livro A mulher que prendeu a chuva assistimos a um quotidiano onírico, fantástico, reflexivo. Num dos contos, As tardes de  um viúvo aposentado, assistimos ao personagem a tentar preencher o seu dia, a inventar situações e saídas para poder ocupar o seu tempo. Acha que esse é o tormento do homem moderno? Num mundo evoluído tecnologicamente o homem acabar por ficar só num mar de gente...?

É verdade que a solidão é um problema actual. Existiu sempre, mas a modernidade agravou-o. No entanto isso não é uma fatalidade, e é possível encontrar saídas.O problema não está nas coisas a que acedemos, que, em si próprias, são neutras, está no bom ou mau uso que fazemos delas. A tecnologia por exemplo  pode afastar ou  aproximar as pessoas. No fundo, tudo depende sempre de nós. Escolher é possível.

5 - Nos seus livros sentimos que a vida pode ser experimentada a cada linha que se lê... É esse o papel da literatura? Experimentar o mundo? Deixar pistas para aquilo que não vemos no dia-a-dia?

Acredito que a literatura alarga o horizonte e a experiência do mundo. Os analfabetos (em sentido real e em sentido lato, de analfabetismo cultural) são incomparavelmente mais limitados e mais intolerantes do que aqueles que lêem (que sabem ler, também no sentido mais vasto do termo). O próprio gesto de abrir um livro (sem o qual na minha perspectiva a vida não seria vida) é um gesto de liberdade: um novo espaço se abre, e nos convida a percorrê-lo.E é, ao mesmo tempo, um gesto de humildade: algo que ainda não sabemos, não conhecemos, não temos, vai ser-nos oferecido e acrescentado, porque estamos sempre num processo de crescimento e de aprendizagem,que só chega ao fim quando morremos.

 6 - A última questão, normalmente, mais “leve”... A Teolinda Gersão já... prendeu a chuva?...

(Risos) Oh,não, eu amo a liberdade e o espaço, e, mesmo que pudesse, nunca prenderia nada! Nem o sol nem a chuva! 


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

LIVROS & LEITURAS



Livros & Leituras ė uma revista literária de grande qualidade, pretígio e com muito dinamismo. Um espaço vivo, de partilha e divulgação de novos e velhos autores. Depois da referência ao Lusitânia Online na semana anterior foi publicada, hoje,  a entrevista a este autor que reconhecidamente se congratula com a oportunidade. Uma entrevista com uma ponta de ironia e humor  como não podia deixar de ser. Aos administradores da Livros & Leituras o meu sincero agradecimento.


Quem é?
Quem sou? Há 48 anos que procuro responder a essa questão. Nem o Freud explica… (risos) Mas na parte que me conheço , para além do humor afiado e da resposta pronta, licenciei-me   em Línguas e Literaturas, fui professor e tornei-me bancário. Alinhavei algumas letras e parágrafos em suplementos literários de jornais durante a década de 80 e administro, actualmente, o blog bento-vai-pra-dentro-bento.blogspot.com, onde publico textos de prosa sobre diversos temas, ligados à crítica de costumes, onde se reflecte sobre a sociedade portuguesa contemporânea. Participei na Coletânea Balaio de ideias e publiquei em edição de autor no Brasil, o livro Lusitânia Online.Continuo a alinhavar letras e parágrafos em colaboração dispersa em revistas nomeadamente na versão portuguesa da The Printed Blog. Em 2012 tive um conto premiado e publicado nos Novos Talentos FNAC da literatura, tenho 
um romance pronto para editar ( Verde, código verde – Um português a fazer de Deus) e continuo, teimosamente, a escrever na antiga ortografia.v
Como e quando começou a interessar-se por literatura? 
A necessidade e o interesse pela leitura e pela escrita manifestaram-se desde muito cedo. Depois de devorar, em pequeno, uma infinidade de livros sem descriminar géneros ou estilos, para além das leituras “normais” para a idade comecei também a despertar para as histórias que a minha avó contava baseadas nas novelas do Camilo. A leitura e a escrita acompanharam a minha adolescência onde o interesse pelo Português marcava já uma predominância sobre todas as outras disciplinas. A dificuldade na geometria e na aritmética e um excelente professor de Português no Liceu Pedro Nunes fez o resto…
Por que motivo resolveu escrever livros?
Pelo mesmo motivo que me leva a beber água ou a dormir… Uma necesidade! De início, talvez para esconder uma certa timidez que me levava a ser avesso a falar em público ou expressar-me oralmente e a ter maior facilidade em comunicar por escrito, mas rapidamente me afeiçoei à palavra escrita, à sua durabilidade e plasticidade. A escrita é a forma que encontrei para agitar as consciências, para despertar os outros, através dos pequenos episódios  do nosso quotidiano formatado para o consumo.
Qual foi a obra que mais gostou de escrever e porquê?
Para além do conto publicado nos Novos talentos da literatura FNAC 2012 (Fashion Heroine)  e  alguns contos do Lusitânia Online (edição de autor publicada no Brasil) o Manucrito Verde código verde. O primeiro retrata a submissão de um casal ao seu fado e de uma mulher que, em ditadura, consegue  (literalmente) estilhaçar essa submissão e obviamente, também pelas palavras elogiosas de Valter Hugo Mãe sobre o mesmo. Quanto ao manuscrito... Agrada-me por ser uma história de resistência. Uma crónica que decorre em dois planos distintos: período revolucionário de 74 e no verão de 2012. O encontro entre antigos companheiros num jantar de evocação de memórias. Um percurso em busca dos amigos por parte do protagonista, por vezes amargo, por vezes irónico que o faz descobrir-se e descobrir que é um inadaptado à efemeridade dos tempos modernos. Uma existência vertiginosa a esgotar-se em gadgets, créditos e prestações. A imbecilidade progride na proporção do crédito concedido. Deixaram de ser genuínos e absorveram carácter massivo e imparável da cultura de globalização. No final, resta o desencanto com o rumo da revolução numa geração a atravessar a crise da meia idade. E resistente também por insistir na sua publicação...
Em que é que se inspira para escrever um livro?
No ser humano! No seu grau de exposição e fragilidade. Na imagem de pessoas frágeis à superfície que desconhecem a sua força. Gente que vive ao nosso lado e tem problemas grandes, pequenos, sérios, caricatos. Na ironia do quotidiano, acima de tudo na nossa capacidade de nos rirmos da nossa história recente fértil em disparates...
Se não fosse escritor, o que gostava de ser? 
Bancário não faria parte das opções, seguramente.  Não vejo outra opção para além da escrita, actividade a que gostaria de imprimir um cunho profissionalizante...
Quais são seus autores preferidos? 
Tantos e tão díspares. Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe, pela densidade psicológica das personagens, pela teia de enredos ora espessos, ora de uma simplicidade brutal. O artifício do trabalho literário. A escrita sai num jorro encadeada e enredada em pensamentos crus, irónicos, pequenas histórias, delírios em ritmo intenso e contínuo. No final, a revelação do conflito interior do personagem ou do narrador. Luís Sepúlveda pela capacidade de efabulação, Miguel Torga pela ligação telúrica, pela palavra pesada e trabalhada no sentido de descrever as condições das gentes da terra, reminiscências da juventude na aldeia.Os neo-realistas pela forma de resistência ao regime, Teolinda Gersão, Lídia Jorge, Proust, Margerite Yourcenar...
Que conselho daria a alguém que deseje vir a ser escritor? 
Aqueles que continuo a repetir-me... Ler muito, escrever mais ainda, persistir com entusiasmo, acreditar sempre! Fazer uso das ferramentas informáticas, das redes sociais, participar, intervir, ter uma causa para escrever, encontrar o modo, o tom e contrariar o desinteresse dos agentes literários. Havendo público, o escritor de causas, mais tarde ou mais cedo, terá o seu lugar na literatura.
Para quando um novo projecto editorial?
Terminei a revisão e reescrita do Verde código verde, continuo a acreditar que é um projecto viável a nível literário e comercial, rompe com alguns canônes e é um projecto  bem humorado e com sensibilidade. De qualquer forma comecei a trabalhar noutro projecto  que já vai com algum vanço. Um romance sobre uma escritora que reside na ilha de Chipre, a maior parte do tempo, numa antiga casa de pedra no sopé das montanhas  e que terá, de uma vez por todas, que acertar contas com o seu passado... Não tinha a intenção de visitar a Sicília naquele verão, mas o convite para participar num filme parecia muito excitante, uma oportunidade a não perder. A vida tinha corrido tranquilamente no último ano e ela pensou renovar velhas amizades e conhecer um punhado de estrelas de cinema de renome. Havia um pequeno senão... Anos antes, tinha sofrido uma experiência traumatizante naquele mesmo local - um encontro que pensou estar ultrapassado. Mal sabia ela que a morte acidental de uma bela e jovem atriz durante as filmagens a arrastaria, uma vez mais, para uma espiral de acontecimentos fora de controle. Acidente ? Assassinato? Disposta a resolver o mistério, mas em fuga de um passado que queria esquecer, acaba por se cruzar com um administrador bancário, também ele em fuga, com um segredo perigoso e muito dinheiro para pôr a salvo. Uma viagem pelo mediterrâneo que os trará ao sul de Portugal onde pensam resolver o mistério, mas onde a pacatez e o bucolismo da paisagem apenas esconde uma provação ainda maior...  Um projecto com um enredo atractivo, uma narrativa onde predomina o equilíbrio entre o sarcasmo, o suspense e a sensibilidade e com personagens das quais  vamos querer ficar a saber o final da história...

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ENTREVISTA LUÍS GALEGO - GALEGO ARMADO EM PROUST




A internet tem destas coisas... Conhecer gente boa, interessante e culta, partilhar ideias, textos, opiniões, há anos que conheço o Luís Galego na net, desde o auge dos blogs. Estive ausente das redes por motivos vários e é bom regressar, agora, com esta entrevista. Falei muito? Falei pouco? Em demasia não foi, certamente, que foi um prazer poder responder às perguntas!

GALEGO ARMADO EM PROUST (CIX)*

🔴 ‘Cavalheiro, culto e educado recita poemas …’. LUÍS BENTO nasceu em Lisboa no ano em que Jean Paul Sarte foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura e parece-lhe ser tempo de voltar a ser criança. Incomoda-o o facto de não ser eterno, não ter certezas, não conhecer Marte. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade (Clássica) de Lisboa e concluiu o mestrado em Ciências da Comunicação na Nova de Lisboa. Foi professor e bancário, mas é a ficção que mais o preenche. Assume-se como autor freelancer, contista, ghost-writer e poeta. Escrita criativa, revisão, biografias e teses são, igualmente, o seu mundo. Tem uma prosa irrequieta e surpreendente, patente desde logo nos suplementos literários de jornais que assinou durante a década de 80. É patrão do blog "bento-vai-pra-dentro-bento": crónicas e outras coisas, tiro aos dardos, pitta shoarma e batatas fritas onde publica sobre temas ligados à crítica de costumes e foi nesse seu mural que conheci o oportuno e sarcástico Luís Bento. Participou na "Coletânea Balaio de ideias, Sete Pecados, Antologia de Poesia Contemporânea" e publicou em edição de autor, no Brasil, o livro "Lusitânia Online". Na sua estrada de bom escrevinhador conta-se, ainda, a participação em diversas revistas nomeadamente na versão portuguesa da "The Printed Blog" e na revista online "Incomunidade e na Via Latina", da Associação de Estudantes da Universidade de Coimbra. Foi finalista e vencedor publicado, em conjunto com mais quatro autores, do Prémio Novos Talentos FNAC da literatura 2012. Com "Avessos" foi distinguido com o consagrado Prémio Nacional de Poesia de Fânzeres - 2015.
Também em Luís Bento existe uma trova do vento que passa: oiçam-no aqui em ‘Vento’, da sua obra “Des Existir do Improviso" - https://www.youtube.com/watch….

Registe-se, igualmente, a sua colaboração literária na revista digital "Torpor" (Passos de Voluptuosa Dança na Travagem Brusca), a sua presença em "Colecção Crateras Poesia" e em "Antologia de contos originais", que acaba de ser publicada e para a qual contribuiu com "O tom verde maduro das árvores a lembrar, vagamente, Montmartre" [http://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=2461], comprovando a sua extrema versatilidade.

___ ‘Nas horas vagas [o Luís] anda por aí…’.

* Não foi possível publicar esta entrevista em tempo útil, mas seria uma pena se a conversa não fosse partilhada. Gosto [muito] de o ter aqui.

[Em tempos de isolamento social ouso interpelar várias personalidades das artes e das ciências. Publicarei uma ou mais entrevistas/questionários por semana que ficarão arquivadas neste mural num álbum – Galego Armado Em Proust – criado para o efeito, podendo ser consultado sempre que queiram. Esta é a centésima nona entrevista de uma série de 110].

'[...] salvava Reviver o passado em Brideshead, um fresco fabuloso sobre o período antes da segunda guerra e o rápido declínio do mundo em que os personagens se movimentam, não sei explicar, mas a ideia do declínio atrai-me.…'

1. Qual é a primeira memória que tens? Que tempo foi esse?
_. Às vezes não sei situar as memórias de forma específica, sei que foi na infância, mas não consigo precisar a idade, talvez 3 ou 4 anos, quando eu e os meus pais fomos dar um passeio pelo campo e resgatámos um pintassilgo caído de um ninho, lembro-me de os meus pais tentarem alimentá-lo com uma pipeta de soro nasal, mas em vão, o pintassilgo ainda com penugem acabou por morrer. Lembro-me da choradeira que fiz e de o meu pai perguntar se queria um peixinho... como eram todos dourados seria fácil substituí-los se algo acontecesse.
Nunca quis o peixe…

2. Quem gostarias de ter sido aos 15 anos? E agora?
_. Tanta coisa! De astronauta a bombeiro na infância aterrei no sonho da escrita.
Queria ser escritor, na altura, ter uma voz, uma intervenção e marcar de alguma forma o panorama literário, com aquela ideia romântica do autor de casaco de malha, sentado à secretária com uma vista desafogada e a viver do ofício. Hoje? Continuo a querer ser escritor.

3. És um Homem que chora?
_. Independentemente do género só almas insensíveis ou muito contidas não choram, essa ideia de que “um homem não chora nem que veja as tripas de outro na mão “, que ouvi na infância, além de desajustada e discriminatória não pega, provavelmente se visse as minhas tripas na mão já não ia a tempo de chorar. Sou emotivo, por vezes controlo uma ou outra emoção mais forte, não por vergonha ou preconceito, mas para ganhar forças para o obstáculo seguinte. Foi assim em dois momentos distintos: quando o Banco onde trabalhei durante 25 anos decidiu dispensar-me, juntamente com outros 297 colaboradores, numa sala, onde um amanuense ia debitando nomes que lia num tablet ou quando o médico me anunciou o diagnóstico de uma doença do foro oncológico e marcou de imediato a intervenção. Digamos que mordi os lábios.

4. De quem mais sentes falta?
_. De tanta gente... professores que me incentivaram e abriram o caminho para a escrita no secundário, de pensadores e artistas, de vozes que adorava continuar a ouvir, da minha mãe, sem dúvida, omnipresente em alguns textos que escrevi e que continua a ter razão naquilo que nós, normalmente, estamos numa idade em que achamos que o mundo é nosso e, por isso, não damos ouvidos.

5. Qual é a tua característica mais marcante?
_. Nesta idade... ainda ando à procura dela... (risos). Normalmente não ligo a marcas.
Enfim, acho que um certo humor corrosivo de mãos dadas com um estado de preocupação geral, em alerta permanente é o que me poderá definir melhor.

6. Como é que lidas com a frustração?
_. Essa é fácil! Escrevo! Mas por vezes pode ser um problema... ao invés de explodir no momento e dizer ao amanuense do Banco tudo o pensava sobre a sua desastrosa gestão, por exemplo, escrevi um texto corrosivo sobre o banco (incluído no romance que ganhou o prémio Lions), mas também tem coisas positivas, nos meus textos, pugno por uma intervenção social com as temáticas do quotidiano, as vidas, a doença, quase protagonista, que me ajuda a ultrapassá-la e, acredito eu, a outros leitores que estejam em situações menos boas.

7. O que deve limitar o território da intimidade?
_. Tal como outras fronteiras, há territórios que são transpostos, consciente ou inconscientemente. A intimidade é aquilo que nós acharmos não dever expor por pudor ou invasão do espaço alheio, balizado, em princípio, pelo bom senso, mas é difícil, o território da intimidade banalizou-se nas redes sociais e até na arte, como tento analisar na minha tese de doutoramento, exactamente sobre esse território do corpo transparente, da apropriação artística da imagiologia oncológica como estrutura de resistência ao dispositivo de poder. Basicamente, pessoas que fazem arte com a imagem da doença.

8. Que pessoa viva mais admiras?
_ A Malala, pela sua coragem, simplicidade, pela persistência e dedicação da sua vida a querer mudar o mundo, em condições difíceis e mostrar a importância da educação e do conhecimento.

9. Qual é a qualidade que mais aprecia numa mulher? E num homem?
_. Na mulher, a sua capacidade de não precisar de um homem para fazer a sua vida, no homem, o milagre de algumas vezes conseguir sobreviver sem a mulher (risos), em ambos, a inteligência e o sentido de humor.

10. Interessa-te o que a critica pensa?
_ Interessa e tem que interessar se quiser continuar a progredir, às vezes temos dificuldade em aceitar, depois de um trabalho árduo para defender uma dissertação, por exemplo, noites mal dormidas, stress, treinar a exposição e depois, num quarto de hora os arguentes só encontram pontos fracos, críticas, chamadas de atenção, é duro, tal como na minha escrita, indicações de que podia fazer de uma maneira diferente, mas vejo sempre o lado positivo da crítica: significa que alguém teve o mesmo esforço que eu para analisar o meu trabalho e apontar as fragilidades para melhoria e correção.

11. Ris facilmente de ti próprio?
_. Sempre! Sobretudo rio-me de mim próprio quando me disperso em eventos com público e me recordo das situações mais invulgares que me aconteceram, gaffes e outros incidentes, cometo muitas gaffes, falo de improviso e, por vezes, sem medir as palavras, o que é propício a incidentes, olham-me de soslaio, imaginam que tive alta do Rilhafoles e então rio-me das minhas figuras, das reações dos outros as minhas figuras. Aliás, a minha escrita é o território para rir de mim, pela boca de outras personagens.

12. Que mulher gostaria de ver como Presidente da República de Portugal?
_. Já era tempo de termos uma mulher na presidência da república... Todas! Menos a Cristina Ferreira! Pelo simples facto de que a Cristina ia transformar o palácio de Belém numa casa de espectáculos e o senhor Sousa já é entertainer em demasia...

13. Como interpretas a frase "Não sou racista, tenho até amigos negros"?
_. Um perfeito disparate. Um “rascimosinho” escondido na condescendência da adversativa, mostra logo ao que vem...condescender, neste tema é colocar-se a um nível mais elevado que não existe, nem pode existir, mas que ainda vai persistindo e que tem que ser combatido.

14. Faz sentido uma pergunta sobre origem [étnica] de cidadãos nos censos?
_. Se somos todos iguais perante a lei e se o objectivo prático dos censos é fazer a recolha objectiva de dados sobre empregabilidade, estudo, idade, distribuição geográfica, etc. Essa questão poderia ser aproveitada para descriminar ou desajustar a análise dos dados, levando a interpretações com outros interesses e aproveitamentos. Enquanto não houver segurança e justificação plausível para recolha dessa informação, tal questão não deve ser colocada.

15. O que responderias a quem que te perguntasse ‘A minha filha sente-se um rapaz. O que posso fazer?’
_ Podes e deves fazer tudo para que a tua filha seja feliz! Feliz na sua acepção literal: contente, alegre, radiante, quer no sentido de conceito. Conceito vem do latim, do verbo concipere, que significa "conter completamente", "formar dentro de si", ou seja, formar dentro de si contentamento pleno, no corpo, a única coisa de que somos proprietários, a par da nossa consciência, claro. Coincidentemente com esta entrevista, abordo a questão Trans no meu último conto publicado na Antologia de contos originais da editora Colibri.

16. Eu não vou em touradas! E tu?
_ Não vou em touradas, ponto. A provocação e o sofrimento animal não podem ser motivo de divertimento e espectáculo ainda que escorados na tradição, a tradição já não é o que era, ou ainda teríamos em vigor o Circo Romano e muito sinceramente, só o J&B é que mantém relações fortes. Excepção feita para as touradas de carácter erótico...

17. Laura Ferreira dos Santos na sua luta “pelo direito a morrer com dignidade” implorava “só peço o direito a não morrer aos bocadinhos.”. Eutanásia: crime ou compaixão?
_. Nem crime nem compaixão, uma escolha de vida, como referi umas perguntas antes, nós somos os únicos e legítimos proprietários do nosso corpo e consciência. Nos casos clínicos comprovados de doença degenerativa, incurável e progressiva, penso que temos o direito de morrer de uma só vez e não em prestações sucessivas, dependentes de máquinas e de terceiros, à espera do milagre.

18. Eu preocupo-me muito com os animais, mas ser vegan não será um pouco exagerado?
_ Bom... um dos direitos que devia estar consagrado na cartilha universal dos direitos do homem devia ser o direito à incoerência. Eu, incoerente me confesso. Preocupo-me com a defesa da vida e dignidade animal, mas ainda não sou vegan, mas la chegará o dia em que não teremos outra opção. Tenho vindo a aumentar o consumo de vegetais em detrimento da carne.

19. ‘Nasceu-te um filho. Não conhecerás, jamais, a extrema solidão da vida…’, versos de Jorge de Sena. Subscreves?
_ Adoro o Jorge de Sena. Percebo o sentido dos seus versos, a extrema solidão depende das acções de filhos e de pais e efetivamente, com o nascimento de um filho mantemos o pensamento ocupado na escola, no seu futuro, no seu progresso, nesse sentido não estamos sós, mas olhando para alguns maus exemplos de idosos depositados em lares quando já não são “úteis”, não sei se, hoje, Jorge de Sena não alteraria os versos.

20. Qual consideras ser a tua maior conquista?
_ Ser pai. É uma categoria que vamos conquistando ao longo de anos. Depois há outras pequenas conquistas, sobreviver a um acidente automóvel, vencer o cancro, ultrapassar uma situação de desemprego.
21. Onde e quando foste mais feliz?
_ Todos os dias em que dou por eles, porque estou acordado, é um dia feliz. O ser “mais” feliz é uma busca constante.

22. Qual o teu herói da ficção? Quem são os seus heróis da vida real?
_. Na ficção, especialmente na BD, o Mandrake, sempre gostei de ilusionismo, tanto como o que tento criar na escrita, na vida real todos aqueles que diariamente andam numa luta constante para manter a subsistência e outros que, de alguma forma tenham ajudado a construir um mundo mais equilibrado e justo e, claro, os filhos, esses são sempre os heróis para os pais.

23. Que profissão, que não fosse a actual, admitirias exercer?
_. Admitiria e quereria! Exercer o ofício da escrita, escritor a tempo inteiro, não pela ideia romântica do glamour da profissão, nem pela vaidade da exposição mediática, mas pelo prazer de imaginar mundos, construir personagens e enredos, apesar do risco financeiro.

24. Um historiador de literatura e um tradutor que aconselhes.
_ Um historiador de literatura. José Barreiros, os seus dois volumes da História da literatura portuguesa acompanharam a minha licenciatura, praticamente, não saíram da cabeceira, um tradutor, pelo trabalho realizado na densa obra de Anne Burns, Milkman, o Miguel Romeira.

25. Quais são os teus escritores preferidos [incluindo os poetas, contistas, dramaturgos, letristas …]?
_ Tantos, mas tantos mesmo. Lobo Antunes, que já merecia o Nobel e de quem, regularmente leio a Memória de Elefante, Mário Cláudio, que também já merecia o Nobel, Proust, de quem andei a fugir na Faculdade e me deixei aprisionar alguns anos mais tarde, Anna Burns, Julian Barnes, O sentido do fim é um livro fantástico, Audur Ava Ólafsdótti, pelo maravilhoso Hotel Silêncio e Robert Seethaler.

26. E o pintor? Um arquiteto e já agora um fotografo?
_. Um pintor, Jorge Pinheiro, a análise do seu quadro o Bispo (azul), rendeu-me uma boa nota na cadeira de Artes Plásticas, (risos), Siza Vieira é incontornável na arquitectura e na fotografia, Júlio Aires, cujo trabalho conheci por via das redes sociais e que apresenta uma densidade, um equilíbrio e um humanismo nas suas composições a preto e branco, com seu eterno e belo Porto como cenário.

27. Um verso de que gostes muito? E um verso teu?
_. Um poema de que gosto muito:
Teu nome
espaço
*
meu nome
espera
*
teu nome
astúcias
*
meu nome
agulhas
*
teu nome
nau
*
meu nome
noite
teu nome
ninguém
*
meu nome
também
[De Ana Martins Marques]

__. Um verso meu... intitulado Anonimato do livro Des Existir do Improviso:
“E então fugiu do anonimato a pensar que escapava à morte,
Mas não conseguiu voltar a tempo...”

28. Se fosse um dia preciso salvar das águas apenas um livro de todos os que leste, qual seria?
_. Espero que esse dia nunca chegue, mas salvava Reviver o passado em Brideshead, um fresco fabuloso sobre o período antes da segunda guerra e o rápido declínio do mundo em que os personagens se movimentam, não sei explicar, mas a ideia do declínio atrai-me.

29. Um comentário que não esqueces relativamente ao Blog "Bento vai pra dentro". E relativo a "Des Existir do Improviso" e a "Avessos".
_. Em relação ao blog, já há muito que ninguém comenta, é cada vez mais raro. Destacaria um comentário a um post intitulado Penso, logo exílio, publicado em 2013: “Escrita contemporânea. Pura. É o fazer pensar sobre o mundo e a vida, o emergir da nossa condição de leitores à partida passivos, mas determinados pela leitura na atitude de escolha de ler quem assim escreve. Numa escrita narrativa profundamente inovadora, numa lógica de comunicação e de sucessão do tempo, afirmas fidelidade à memória doce de valores fundamentais como o amor, a vida, o ser. No meu entender, e já não é de hoje, és um escritor que evidencia um modo labiríntico de compor textos com registos diferenciados embora seguros e coesos, veiculando uma pungência de sensibilidade que confere ainda mais acutilância ao rigor formal e fechado das palavras. É uma escrita densa que obriga a leitura(s) conscientes e múltiplas. São leituras com uma ironia aguda que afirma uma vocação pessoal para a crítica pela observação de costumes e de ambientes político-sociais. Memórias…flashbacks que nos transportam a outros tempos sem perder o norte ou o pé que temos no presente. Uma quase consciência crítica em ambiente contemporâneo alicerçado à memória nacional do passado recente, numa evocação de ambientes e figuras próximas. Tens uma marca discursiva muito própria…persistente e inconfundível. Penso logo exílio. Leio logo lembro. Resta-me pensar… logo… Parabéns. Excelente.”
Sobre o Des Existir do Improvis, sem dúvida, o comentário do Luís Galego: “Estimado Luís chegou-me hoje o teu livro. Já li e reli alguns poemas. Tu és mesmo bom, caraças”.

30. Quem é o teu compositor preferido?
_ Rachmaninoff, pelos prelúdios.

31. Se um realizador te pedisse para com ele colaborar numa nova versão de um dos seguintes filmes por qual optarias: "Rocco e seus irmãos" [Luchino Viscont], "Jules e Jim" [François Truffaut], "Central do Brasil" [Walter Salles] ou "Belarmino" [Fernando Lopes].
_ Central do Brasil de Walter Salles, sem dúvida. Uma história comovente, uma análise sobre um Brasil profundo feito de encontros e desencontros, a solidão, o caminho, a esperança, um humor enviesado, uma forte crítica à injustiça e a enorme lição de que podemos vencer essa coisa criada para nos amolecer a vontade que a literatura e a religião chamaram de destino. Punha algum freio no meu humor corrosivo e acentuava os murros no estômago [https://www.youtube.com/watch?v=xmMR46HsaBc].

32. Com quem dançarias até às 5 da madrugada?
_. Com ninguém, não quero impor suplício ou desastre.

33. ‘Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes …!’ [mais coisa, menos coisa], disse Baudelaire. Caro Luís, esquece a poesia e a virtude e diz-me em que contexto apanhaste a maior bebedeira [se é que…]?
_. Com o Baudelaire não foi com certeza, que levei com ele na faculdade de letras numa altura em que as obrigações eram o caminho mais rápido para a balda, com vinho, mas mais com whisky, nesses gloriosos tempos em que tínhamos uma tertúlia. Saiamos das aulas da Faculdade, íamos comprar whisky e falávamos de Edgar Morin, Mário Vargas Llosa, Barthes e chegava a casa as 10h da manhã do dia seguinte mesmo em cima da hora das frequências. Agora, agora, o único contexto para cair de quatro, talvez quando conseguir publicar o meu romance.

34. Consegues eleger o prato da tua vida?
_. Consigo comer! Que é diferente, favas guisadas, que o meu estômago não tem pedigree.

35. Uma cidade/um país onde voltarias? Um país/uma cidade por descobrir?
_ Voltaria a Florença, à Itália toda refazendo um percurso de férias, de carro, do passado recente: Lisboa, Bilbao, Pau, Carcassone, Nice, Monte Carlo, Génova, Luca, Pisa, Florença. Reiquiavique e a Islândia, à conta das descobertas literárias mais recentes.

36. Qual é o teu atual estado de espírito?
_. Oscilo muito entre a euforia e a disforia. Em termos de estado, se não fosse humano seria um elevador. Atualmente, o meu espírito não tem “Estado”, é um pária, porque não consigo escrever.

37. Ainda se morre por amor ou isso só acontece nos poemas que nos atormentam o espirito?
_. Morre-se mais de solidão, por falta de amor. Mas gostava de morrer de amor no poema da Maria Teresa Horta:
‘Morrer de amor
ao pé da tua boca
*
Desfalecer
à pele
do sorriso
*
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
*
Trocar tudo por ti
se for preciso’.

38. Não se pode resumir uma vida numa palavra, disse Bernard Pivot. Ainda assim, diz-me uma palavra de que gostes.
_ Forrobodó, inicialmente farrobodó derivado do primeiro conde de Farroba que dava festas sumptuosas e ruidosas onde hoje fica o Zoo de Lisboa. Era como deveria ser a nossa vida, um forrobodó e não o inferno em que por vezes os outros a transformam. Os outros que também somos nós. Malandro do Sartre!

39. Para fecharmos este questionário/entrevista que pergunta gostarias de me fazer?
_ Gostaria de fazer muitas, mas pelo menos duas: Quando é que vamos tomar esse café? E Quando é que vamos tomar esse café?

Muito Obrigado Luís Bento!
Luís Galego
17.08.2020

📷self.

 Entrevistas anteriores: (I) André Freire, (II) Eugénia Vasques, (III) João Brás, (IV) Mamadou Mahmoud N'Dongo, (V) Noémia Costa, (VI) Rogério Pacheco, (VII) Fernando Heitor, (VIII) Luís Osório, (IX) Inês Fonseca, (X) Maria Matos, (XI) João Costa, (XII) Elísio Summavielle, (XIII) Eduardo Pitta, (XIV) Teolinda Gersão, (XV) Hortênsia Calçada, (XVI) Pedro Vieira, (XVII) Maria João Luís, (XVIII) Hugo van der Ding, (XIX) Anne Victorino de Almeida, (XX) Ana Cássia Rebelo, (XXI) António Manuel Ribeiro, (XXII) Yvette Centeno, (XXIII) Roberto Pereira Rodrigues, (XXIV) Daniel Sampaio, (XXV) José Correia Guedes, (XXVI) Dolores Parreira, (XXVII) Isac Graça, (XXVIII) Inês Thomas Almeida, (XXIX) Maria Quintans, (XXX) André Maia, (XXXI) João Pedro Vala, (XXXII) Inês Fontinha, (XXXIII) Matamba Joaquim, (XXXIV) Lurdes Feio, (XXXV) Martim Pedroso, (XXXVI) Ana Salazar, (XXXVII) Rosa Vaz, (XXXVIII) Helena Coelho, (XXXIX) Mc Somsen, (XL) Emília Ferreira, (XLI) Ângela Pinto, (XLII) Rui de Luna, (XLIII) Estelle Valente, (XLIV) Isabel Mendes Ferreira, (XLV) Dalila Carmo, (XLVI) André Osório, (XLVII) Isabel Medina, (XLVIII) João Pinto, (XLIX) Bruno Gomes Gonçalves, (L) Paula Perfeito, (LI) Frederico Corado, (LII) Elmano Sancho, (LIII) Ana Margarida de Carvalho, (LIV) Luís Reis, (LV) Lucinda Loureiro, (LVI) Paulo Otero, (LVII) André Tecedeiro, (LVIII) Vera de Vilhena, (LIX) Tiago Salazar, (LX) Cecília Carmo, (LXI) Carlos Prado, (LXII) Alberto Villar, (LXIII) Olga Roriz, (LXIV) Itamar Vieira Junior, (LXV) São José Lapa, (LXVI) Fernando Ventura, (LXVII) Fernando Ramos, (LXVIII) Manuel Halpern, (LXIX) Catarina Figueiredo Cardoso, (LXX) Jacinta Jazz, (LXXI) Maurício Gomes, (LXXII) Joana Emídio Marques, (LXXIII) Rita Ferro, (LXXIV) David Simões, (LXXV) Sílvia Vasconcelos, (LXXVI) Cristina Vidal, (LXXVII) Rafeiro Perfumado, (LXXVIII) Daniel Bernardes, (LXXVIX) Fernando Ferreira, (LXXX) Simão Rubim, (LXXXI) Luísa Dulca Soares, (LXXXII) António Capelo, (LXXXIII) Ricardo Fonseca Mota, (LXXXIV) João Neto, (LXXXV) Levi Martins, (LXXXVI) Tiago Guedes, (LXXXVII) Miguel-Manso, (LXXXVIII) André Gago, (LXXXIX) Cecília Barreira, (XC) Rui Effe, (XCI) Analu Prestes, (XCII) Isabel Rio Novo, (XCIII) Cristina Carvalho, (XCIV) Jorge Silva Melo, (XCV) José Magalhães, (XCVI) Paulo Teixeira Pinto, (XCVII) Miguel Poiares Maduro, (XCVIII) Tomás Kisseleca, (XCVIX) Pedro Penim, (C) Maria Eduarda Colares, (CI) Eduardo Quive, (CII) Júlio Lellis, (CIII) Mafalda Ribeiro, (CIV) Paulo Guerra, (CV) Mariana Ianelli, (CVI) Miguel Almeida Bruno, (CVII) Vítor Serrão, (CVIII) Miguel Loureiro.

#luisbento #galegoarmadoemproust

 Luís Galego adicionou uma foto nova de 17 de agosto às 15:03 ao álbum: GALEGO ARMADO EM PROUST — com Luís Galego II e Luis Bento.